Esse foi recente, um serviço constituído por 10% de gambiarra e 90% de muito trabalho, mas que vale a pena colocar aqui no blog.
Meu carrinho velho ficou uns dois anos parado e exposto às chuvas, com isso entrou água no porta-malas e empossou no fundo, onde fica o tanque de combustível. Com isso o tanque, que é de chapa de aço, enferrujou, criando pequenos buracos por onde álcool (fala sério, você conhece alguém que fala etanol?) minava sempre que eu saia e, além do desperdício, dava um cheio forte e incômodo.
Minha primeira idéia foi aplicar uma camada de fibra de vidro sobre o tanque, com a idéia de tapar os buracos e dar uma proteção extra para a chapa que era castigada por tudo que eu carregasse no porta-malas.
Feito isso, em pouco tempo a escolha mostrou que não foi a melhor. Meu carro é da década de 1980, seu motor era originalmente projetado para funcionar com gasolina e posteriormente foi modificado pela própria Ford para trabalhar com álcool. Porém, ele nunca teve um desempenho pleno com o novo combustível, então a manha para andar macio e sem problemas é colocar sempre 20% de gasolina no tanque. O problema é que os solventes adicionados à gasolina detonaram a resina que compõe a fibra de vidro, e com isso pequenos vazamentos voltaram a ocorrer. Mas ao contrário de antes, agora os buracos já não estavam tão fáceis de achar, pois o liquido vazava pela trama onde a resina foi removida.
Gambiarra número um: descobrir onde estão os furos. Para isso peguei um pedaço daqueles papéis de fazer embrulho em quitanda, abri sobre o tanque e dei umas chacoalhadas no carro. Eis onde estavam os problemas.
O que fazer? O que usar? Lembrei de um pedaço de manta asfáltica usada para impermeabilizar calhas que estava jogado em algum lugar. Peguei um pedaço e, agora já mais esperto, testei antes de usar.
O teste foi simples, separei três pequenos pedaços e coloquei em três amostras distintas de combustível, a número um com álcool puro (do posto), a segunda com a mistura que eu uso, 80% álcool e 20% gasolina, e a segunda com gasolina comum pura.
Quarenta e oito horas de imersão depois e os resultados:
Como o que realmente interessava era a amostra 2, guardei uma quantidade pura da mistura 80/20 (à esquerda) para efeito de controle.
Como podemos ver, a alteração no combustível foi bem pequena, se considerarmos que foi uma imersão e o tempo decorrido.
Visualmente fica clara a ação dos combustíveis sobre a manta em suas três combinações, então retirei as amostras para ter uma idéia melhor.
Tanto com álcool puro quanto com a mistura 80/20 não houve qualquer alteração física significativa, entretanto a gasolina pura transformou a manta em pasta, o que quer dizer que para um carro que funciona apenas com gasolina a manta é inviável.
Respondida a questão “posso ou não usar a manta”, comecei os trabalhos. Primeiro passo, esvaziar o tanque. Isso não tem mistério, qualquer um sabe fazer.
Tanque vazio, soltei as mangueiras de alimentação do motor e de retorno, assim como o fio da bóia. Note como o tanque estava sujo por baixo.
A bóia é um caso à parte, ela não marcava o nível de combustível, o que me obrigava a controlar o reabastecimento com a ajuda do hodômetro parcial, então aproveitei o embalo para consertá-la.
Num momento de manezisse eu esqueci de fotografar o processo, mas não tem mistério, a bóia propriamente dita está na ponta de uma haste, quando você pára no posto e coça a carteira, o nível de combustível sobe, a bóia sobe também e a haste na qual ela está presa se move, fazendo um contato elétrico se deslocar sobre um reostato. O reostato nada mais é que uma placa de fibra toda enrolada por um fio resistivo, esse fio tinha partido e uma solda de estanho resolveu tudo. Teria sido legal acrescentar isso bem explicado, mas vacilei feio esquecendo de registrar as imagens. Sigamos.
Oito parafusos retirados e o tanque saiu facilmente.
Claro que eu aproveitei para limpar o tanque por dentro e por fora, aí veio a maior surpresa de todo o trabalho. Você que lida com combustíveis acha que já viu sedimento grosseiro? Pois bem, 40µm é para os fracos, olha o que eu achei dentro do tanque do meu carro.
É isso aí, um pedaço de bocal do tanque. Para não haver dúvidas o da esquerda é o que está em uso atualmente, note que são iguais.
A única forma que eu consigo imaginar para isso ter parado lá dentro é que o antigo dono do carro foi abastecer e o frentista era o Chuck Noris, e ele fez um “pouquinho” a mais de força na hora de tampar o tanque. Mas deixemos esses detalhes de lado.
Aì você deve estar pensando: “Puxa, Ronaldo, você ficou muito tempo sem poder andar com o carro?” Que nada, gambiarra número dois, tanque auxiliar.
Visto o recipiente em forma de botijão à esquerda? É um reservatório de água do Corcel II, original Motorcraft, comprado por módicas 10 merrecas no desmanche. Ali cabem, se não me engano, um litro e meio, já tem um respiro e a saída na mesma bitola da mangueira que vai para o primeiro filtro, foi só soltar a mangueira que vinha do tanque e ligar a desse tanquinho. Como só uso o carro para trajetos curtos e ele é bem econômico, dava pra andar numa boa e reabastecer ao voltar para casa.
“Mas Ronaldo, não é perigoso colocar combustível no cofre do motor? O plástico não pode derreter com o calor?” Não, no cofre do motor temos mangueiras e filtros lotados de combustível, além do reservatório de partida a frio, que leva mais de um litro de gasolina pura. Quanto à temperatura, o recipiente resiste, pois já foi feito para ficar próximo ao motor.
Mas voltemos ao tanque. Depois de lavado por dentro e, principalmente, por fora, foi para os cavaletes.
Como medida de proteção contra pedriscos e umidade, apliquei três camadas de emborrachamento da 3M. Essa cobertura secou por dois dias.
Aí veio a parte principal, a cobertura superior. Como já disse, a manta é usada principalmente para impermeabilizar telhados e calhas, ela consiste de uma camada asfáltica com uma cobertura metalizada de um lado e um adesivo do outro; é vendida em lojas de ferragens e de materiais de construção. A que eu usei tem 20cm de largura e vem em rolos, que podem ser comprador inteiros ou fracionados ao gosto do freguês. O metro linear custou R$7,00.
Ao contrário do que possa parecer à primeira vista, ela é muito boa para trabalhar e sua aplicação facílima. A manta adere muito bem à maioria das superfícies limpas e a camada metalizada estica e corruga para se adaptar às irregularidades do local onde serão aplicadas. A aplicação não deu 10% do trabalho que eu esperava e o resultado ficou excelente. Virei fã do produto.
Hora de colocar tudo de volta, aí vieram mais alguns problemas. O tanque é preso ao fundo do porta malas por oito parafusos que passam a flange do tanque e se conectam a porcas prisioneiras fixadas à estrutura por grampos.
Acontece que três dessas porcas estavam faltando e seria mais fácil achar um saci de duas pernas que encontrar à venda porcas tão específicas para um carro com quase 30 anos, então tive que improvisar. “Mas Ronaldo, três porcas fazem tanta falta?” Claro, um tanque cheio pesa muito, imagina isso indo para cima e para baixo quando eu passar pela lombada. Além do mais, se o fabricante achou por bem usar oito parafusos, então vamos usar oito e não cinco.
O improviso foi o seguinte, peguei três arruelas e três porcas compatíveis com os parafusos.
Soldei (mal e porcamente), rebaixei onde precisava rebaixar e pintei para proteger onde a o tratamento de superfície foi removido.
Duas dessas novas porcas foram colocadas apenas na pressão, encaixando entre partes da chapa.
Apenas uma delas precisou se fixada com um rebite pop de 1/8.
Vale lembrar que a fixação era apenas para elas não saírem do lugar até que os parafusos as pegassem. Daria para colocar uma porca comum? Daria, mas alguém teria que ficar embaixo do carro segurando enquanto eu apertaria os parafusos lá de cima.
“Ronaldo, o que é aquela coisa cinza nas duas últimas fotos?” Aquilo é massa de calafetação, serve para vedar a fresta entre o tanque e o fundo do porta-malas, evitando que entre água. A caixa tem 24 filetes de 20cm cada e custa R$4,50
Trabalho finalizado e tanque de volta ao seu devido lugar.
Mais algumas coisas que eu aproveitei para fazer: Pintei o duto que vai do bocal até o tanque com esmalte sintético preto fosco; limpei e cobri com graxa de silicone o selo que fica entre os dois (ambos podem ser vistos na foto acima); pintei a tampa da bóia; troquei o fio que vai até o contado da bóia por um de capa dupla, coloquei um conector novo, apliquei mais graxa de silicone para evitar acúmulo de umidade; cobri o conector novo com espaguete termo retrátil; removi todo o óxido dos parafusos com banho ácido e apliquei um fosfatizante.
Bem, já tem mais de duas senas que o serviço ficou pronto e até agora nada de anormal aconteceu.
Hoje não tem filminho, mas tem uma foto especial para encerrar. Durante os dias em que eu arrumava o tanque, a gata de rua que resolveu morar na minha oficina teve cinco lindos filhotinhos.
Ohhhhwww!
É isso aí, espero que você goste e fique à vontade para deixar comentários e opiniões. E não se esqueça de dizer seu nome, para eu poder conhecer melhor os visitantes.
That's it, hope you enjoy and feel free to leave comments and opinions. And do not forget to say your name, so I can better understand visitors.
Muito bom trabalho caro amigo, certa vez reparei um tanque de Maverick com tecido de fibra de vidro, com bom resultado.
ResponderExcluirAbração e até a próxima...
Hotz, eu tive problemas justamente com o contato da fibra de vidro com os 20% de gasolina que eu adiciono ao álcool. O combustível dissolveu a resina e vazou pelas fibras. Você usou algo para proteger a fibra de vidro?
ResponderExcluirOlá Ronaldo, me chamo André Sarmento, achei incrível seu blog, parabéns pelos projetos e gambiarras, gostaria de convidá-lo a postar um (ou mais) de seus projetos no DIY Brasil http://www.diybrasil.com.br, precisamos de você lá :)
ResponderExcluirRonaldo me chamo Fabrício possuo o blog http://high-tech-mecanica-popular.blogspot.com/
ResponderExcluironde também posto coisas uteis sobre mecanica, marcenaria etc. e procurando no google por mini serra circular de bancada caseira achei esse seu blog muitissimo legal. De uma olhadinha no blog e comente sobre ele.
Parece que seu trabalho foi apenas na parte externa do tanque.
ResponderExcluirA sugestão é colocar dentro do tanque uns 200 ml de resina de fibra de vidro tipo bisfenolica ou estervinilica, espalhar por toda a superficie interna rodando o tanque em todas as direções e terá um tanque bem vedado.
Respostas atrasadas ao André e ao Fabrício: caros colegas, por absoluta falta de tempo0 tenho adiado ver os dites de vocês, quero poder fazer isso com bastante tempo e calma. Mas agora com a calmaria do fim de ano prometo fazer isso e entrar em contato. Um abraço.
ResponderExcluirCaro Anônimo, eu até pensei nisso, mas tive problemas com a resina que usei. Meu carro por ser um motor originalmente projetado para gasolina e posteriormente adaptado pela Ford para o álcool, funciona melhor com uma mistura de 2/8 desses combustíveis. Acontece que o contato constante da gasolina amolecia a resina que eu usei. Talvez com as que você sugeriu esse problema possa ser sanado. Qual delas seria mais resistente ao contato direto com gasolina e seus aditivos?
ResponderExcluirOlá, Ronaldo
ResponderExcluirA resina que usou foi provávelmente do tipo comum, ortoftálica, das mais baratas, impróprias para solventes.
Recomendo estas:
http://www.quimatic.com.br/produto/plasteel-alta-resistencia-quimica/aplicacao/revestimentos-epoxi/
http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-213111432-resina-vinilica-p-tanques-combustivel-gasolina-etanol-alcool-_JM
Obrigado pela dica, vou aproveitar na primeira chance.
ResponderExcluirO que aconteceu com os gatos?
ResponderExcluirRonaldo, parabéns pelo seu blog! Admiro pessoas como voce, que usam sua criatividade e não tem preguiça de trabalhar e concretizar suas ideias. Além disso, voce tem o trabalho e a boa vontade de compartilhar isso com as outras pessoas, o que também muito admiro. Quanto as porcas de fixação do tanque do Corcel, me parece que elas são comerciais, e são facilmente encontradas no mercado pelo nome PORCA GAIOLA. São largamente utilizadas na industria metalúrgica e automobilística.
ResponderExcluirUm abraço!
André P. de Lima
Parabéns! otima materia e muito explicativa. o teste com os combustiveis então, muito esclarecedor, farei o mesmo na restauração de um tanque de moto que foi castigado pela ferrugem! grande abraço e obrigado pela ajuda!
ResponderExcluirParabéns Ronaldo pela sua adaptação e pelo seu texto, porque além de ser muito bem explicado (exceto o conseto da bóia, mas já está justificado) é bem humorado! E a sua lógica para suas adaptações está excelente!
ResponderExcluirFelizmente o pessoal veio com comentários que só vieram a acrescentar o conteúdo do blog. Parabéns também aos colaboradores!
ronaldo tu podes nao acreditar, mas se tu misturar erva mate e sabao amarelo daqueles bem baratos vai fazer quase uma especie de durepoxi que resiste muito tempo a gasolina colei o fundo de um tanque com isso e durou mais de 2 anos um abraço
ResponderExcluirparabéns otimo trabalho, gostaria de saber como fez para desmontar a tampa onde fica a boia do tanque, possuo um corcel 21979 e vi que é igual. meu email é rodrigosilvagoncalves@ibest.com.br
ResponderExcluirgostei do seu post, mais vou deixar uma dica para você, para usar fibra, use resina bi-componente que é conhecida como (durepoxy industrial)é vendida em duas partes iguais para serem mescladas na medida necessária, usando com tecido de laminação e fibra de vidro se fás estrema mende resistente a solventes dos combustíveis.
ResponderExcluirvlw boa sorte.
Roberto Y.N
ResponderExcluirGostei muito do seu trabalho, bem planejado e eficiente!
Gostaria de uma sugestão sua, para reparar o assoalho da minha variola 1974 que esta bem ruizinha. Agradeço desde já e um abraço!
muito bom, aconteceu exatamente com meu delrey e fiz e deu tudo certo , obrigado
ResponderExcluirRonaldo,obrigado meu nome e andrade vi o vazamento ontem pela manha num feriado e nao sabia o que fazer,vou começar agora o prosseço.
ResponderExcluirCamarada, fiquei seu fã... já tive um carro com esse motor, que deve ser um cht 1.6 álcool da autolatina. Se bem me lembro esse motor tem uma corrente tipo aquelas de moto no lugar das atuais correias dentadas... motor muito bom, anda ao menos uns 300mil sem ter de fazer nada de motor... Cheguei no seu site procurando por algo pra remendar o pino de retorno da bomba de combustivel... que é de plástico e quebrou. Por enquanto estou apostando na araudite mas ainda não tratei... o velho pug 99 é td de bom, mas quando quebra qualquer trocinho é um saco achar coisas pra ele... e num preço que não esteja na casa dos milhares... bah... e pensar que a bomba de combustível completa de meu antigo gol CHT 1.6 não passava de 60 pilas e era super simples de instalar: dois parafusos, duas mangueiras e tava pronto. Mais dois anos pro álcool estragar ela de novo hehe....
ResponderExcluirCamarada, fiquei seu fã... já tive um carro com esse motor, que deve ser um cht 1.6 álcool da autolatina. Se bem me lembro esse motor tem uma corrente tipo aquelas de moto no lugar das atuais correias dentadas... motor muito bom, anda ao menos uns 300mil sem ter de fazer nada de motor... Cheguei no seu site procurando por algo pra remendar o pino de retorno da bomba de combustivel... que é de plástico e quebrou. Por enquanto estou apostando na araudite mas ainda não tratei... o velho pug 99 é td de bom, mas quando quebra qualquer trocinho é um saco achar coisas pra ele... e num preço que não esteja na casa dos milhares... bah... e pensar que a bomba de combustível completa de meu antigo gol CHT 1.6 não passava de 60 pilas e era super simples de instalar: dois parafusos, duas mangueiras e tava pronto. Mais dois anos pro álcool estragar ela de novo hehe....
ResponderExcluirRonaldo, agradeço ter postado sua experiência adoro ajustes técnicos , que os inimigos chamam de gambiarra...um abraço
ResponderExcluircoloquei durepox no tanque do meu fusca nao adiantou coloquei um tanque novo pasei muita RAIVA JA TAVA QUASE BOTANDO FOGO NO AARRO DE TANTO Q VAZAVA .........ABS
ResponderExcluirolá Ronaldo.... que gambiarra bem feita hem ...rsrs Parabéns!
ResponderExcluirEstou com um probleminha e não sei como resolver tenho uma classe A 160 e começo um vazamento no tanque identifiquei que são pequenos perfuros na lateral ... sabe me dizer qual produto poderia isolar esse vazamento sendo que o carro é a gasolina ?
Abraços
Suellen
Cara, que post incrível! Comprei um corcel 83 bem debilitado essa semana. Vi que o porta malas tinha podres, mas o tanque foi uma surpresa. Pensei na manta e resolvi pesquisar se alguem ja tinha feito. Vou fazer isto, mas acho que não vou tirar... vou aplicar direto lá mesmo!! abraços!
ResponderExcluirok tentei mas nada cola furo em tanque de gasolina
ResponderExcluirSabão em barra e erva mate ,mistura bem misturado ,da pra andar vários meses sem um vazamento
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